Resumo: A caça de animais silvestres é proibida por lei em todo território nacional, sendo permitida apenas por reservas indígenas para fins de subsistência. A Etnobiologia é uma ciência que interliga a relação do homem aos recursos naturais e um de seus ramos amplamente estudado é a Etnozoologia, ciência que investiga a relação das culturas humanas com os animais. A caça traz inúmeras consequências ecológicas e comportamentais as espécies como a mudança de padrões comportamentais associados ao tamanho das populações, perda de processos ecológicos como dispersão de sementes, manutenção da heterogeneidade do micro-habitat, perda de habitats reprodutivos e comprometimento da capacidade de suporte. Nesse sentido, o trabalho teve como objetivo reconhecer como os caçadores da comunidade Bonfim, zona rural semiárida do município de Angicos/RN reconhecem essa relação e faz uso desses animais. Adotou-se como método de amostragem qualiquantitativo a técnica Snowball (Bola de Neve), assim como “turnês guiadas”, registros fotográficos e questionário semiestruturado contendo informações socioeconômicas e etnozoológicas. Para análise quantitativa, utilizou-se o software Excel para a tabulação dos dados. As espécies foram identificação mediante um mosaico com imagens de espécies da fauna local registradas a partir de trabalhos relacionados ao tema e regiões semelhantes. Os dados foram coletados nos meses de junho e julho de 2012, totalizando cinco visitas, duas com duração de dois dias e três com duração de dez horas. Foram mencionados 28 caçadores, destes, 14 foram entrevistados. Os demais não residiam mais na comunidade e dois se encontraram ausentes. Os entrevistados apresentaram faixa etária entre 21 e 30 anos (43%), a maioria tem o ensino fundamental incompleto (43%), renda familiar entre 1 e 2 salários mínimos (57%), moram a mais de vinte anos na comunidade (57%), aprenderam a caçar com amigos (42%), repassam a prática da caça a terceiros (57%) e tem conhecimento de que a caça é crime ambiental (93%). No local, se destaca a caça de subsistência com 31%, seguido da comercial com 23% e medicinal com 21%. A caça de animais silvestres é reconhecida por 71% dos caçadores como prejudicial ao meio ambiente. A abordagem etnofaunística contabilizou 294 citações correspondendo a uma riqueza de 70 espécies diferentes distribuídas em 28 ordens, 44 famílias e 58 espécies identificadas. O grupo taxonômico de maior procura pelos caçadores são os mamíferos, com representatividade de 62% para a família Dasypodidae de alto valor comercial. Em contrapartida, as aves se apresentam como grupo mais conhecido taxonomicamente com 45%. A técnica de caça mais utilizada é a caça com cachorro para mamíferos e répteis e, para as aves a caça com espingarda. Os répteis formam o grupo mais significativos do ponto de vista medicinal onde, a banha, é a parte mais utilizada como uso tópico. O estudo e identificação da riqueza de espécies capturadas durante a caça, viabiliza a formulação de estratégias significativas na proteção da fauna silvestre, sua utilização pela comunidade e principalmente uma abordagem reflexiva quanto ao impacto caudado por essas práticas. É importante ressaltar que a sustentabilidade articula não apenas sistemas ecológicos mais também sociais, e os estudos a eles direcionados devem estabelecer parâmetros que abracem a sua diversidade.