1. Introdução Em março de 2017, foi inaugurado o Eixo Leste da transposição das águas do Rio São Francisco, que inclui os estados da Paraíba e Pernambuco. A chegada das águas gerou enorme euforia e expectativa que mereceram atenção da mídia, assim como alguns conflitos, imagens da ruptura de canais e desvio de água, e a discussão sobre a elevada evapotranspiração. O Eixo Norte ainda não recebeu a água, pelo que a mídia dá atenção ao impasse da chegada das águas e custos adicionais de obras como a barragem de Oiticica no RN. 2. Objetivos A pesquisa tem como principal objetivo analisar a cobertura midiática da transposição da água do Rio São Francisco por meio das notícias publicadas em um portal de notícias da Paraíba (Diário do Sertão) e um jornal do Rio Grande do Norte (Tribuna do Norte). Buscamos evidenciar diferenças nas representações midiáticas da transposição em um estado que já está recebendo a água e outro que aguarda a chegada. A proposta integra uma análise mais abrangente que inclui outras metodologias e abordagens a partir de jornais com cobertura nos estados receptores e nos estados a jusante do canal da transposição. 3. Metodologia A metodologia utilizada já foi testada e aplicada em pesquisas anteriores sobre a cobertura midiática (FERREIRA, 2016). O recurso à mídia se justifica por ser uma importante fonte de informação, com enorme potencial para alcançar os variados públicos, promovendo assim o debate público e sendo capaz de fornecer a possibilidade de cada um formular uma opinião sobre os temas, consolidando-se como principal fórum de debate público, atenuando a escassez de outras fontes. Por outro lado, sabemos que tem predileção por situações de conflito e em dar visibilidade a atores socialmente organizados. Em concreto, coletamos através de pesquisa online os artigos publicados sobre a temática, em 2017, na imprensa regional no Rio Grande do Norte e na Paraíba, recorrendo aos jornais Tribuna do Norte e Diário do Sertão. Os registros noticiosos são depois analisados a partir da subtemática, localização, principais atores sociais envolvidos e seu contributo. 4. Resultados Após análise do histórico da seca (GUIMARÃES, 2016; FERREIRA; PENHA, 2018), a proposta que trazemos procede à análise das representações do tema da transposição presentes nas notícias publicadas, as mesmas mostram a euforia da chegada das águas, com imagens da inauguração oficial pelo presidente Michel Temer e da inauguração popular por Lula da Silva. Estas imagens e mensagens colocam a obra no campo das disputas políticas e não apenas das opções técnicas, mas como uma visão comum sobre o contributo das águas na solução do problema da seca do Nordeste e um papel central no futuro desenvolvimento da região. As imagens contrastam com o desalento motivado pelo fato de nem todas as cidades garantirem acesso à água, assim como do rompimento de canais e da elevada evapotranspiração, no RN o desalento advém com o adiamento da conclusão da barragem de Oiticica. 5. Considerações finais A cobertura midiática permite tirar conclusões sobre a forma diferenciada como a transposição se apresenta nos jornais regionais. Os resultados mostram ser grande a expectativa gerada pela obra, dando igualmente conta de alguns problemas no arranque da fase de operação, e desalento pelo adiar do chamado Eixo Norte, que levará a água ao Rio Grande do Norte e Ceará. No RN a barragem de Oiticica causa preocupação, com a mídia a dar sucessivamente conta do impasse e dos avanços. A grande visibilidade da politização da inauguração contrasta com a invisibilidade dos variados temas que permeiam como a fatura da transposição.