O presente artigo é resultante de um estudo acerca dos territórios de reforma agrária no Nordeste do Brasil, desenvolvido a partir de discussões em sala de aula e levantamento de dados, com a culminância na observação em campo das relações sociais e organização do espaço em dois assentamentos de reforma agrária da região intermediária Sousa-Cajazeiras, no estado da Paraíba. Os objetivos que fundamentam o trabalho partem da premissa de comprovação de relatos dos quais podem-se enfatizar: conhecer a história da luta pela terra narrada pelos moradores e através da materialidade do espaço ocupado; analisar as condições de vida que lhe são imputadas pelas autoridades governamentais locais de acordo com a presença ou ausência de serviços básicos; identificar técnicas e, tecnologias empregadas pelos assentados para o manejo do solo e os tipos de culturas desenvolvidas; avaliar os sistemas de captação, distribuição e usos da água; e estimar as atuais expectativas dos assentados acerca de urgentes políticas de reforma agrária no Brasil. Para a realização do trabalho, desde as aulas iniciais, fizemos o uso de abordagem indutiva, análise dialética e levantamento bibliográfico, o que possibilitou, doravante, a aproximação com os sujeitos em campo. Buscou-se assim, escutar as inquietações, a constatação das nuances que perfazem a vida dos assentados, as inúmeras lutas travadas desde o momento em que nasce um filho de um trabalhador sem-terra e, desde então, a guerra que precisam travar para sobreviver, conquistar uma propriedade e produzir em um pedaço de chão seco e árido. Para obtenção dos relatos de um maior número de assentados, no último assentamento visitado, foram divididos grupos dentre os estudantes e envolvidos presentes para a visita a domicílio das famílias locais. As visitas às famílias tiveram o intuito de coletar informações sobre os desdobramentos de suas trajetórias na luta camponesa e a forma como organizam suas atividades econômicas. Utilizamos como fonte bibliográfica autores que discursam sobre o agrário, o rural e o agrícola. O estudo proporcionou-nos examinar as estratégias de convivência com o semiárido, desenvolvidas pelas famílias assentadas, e aponta o sucesso das tecnologias usadas tanto na produção agrícola e de derivados, com ênfase para a produção orgânica, quanto no manejo e cuidado com o solo e a administração e distribuição do recurso que lhes é mais caro, a água. Diante da experiência, constatamos que o arranjo de cada um dos assentamentos, a tecnologia implantada para a convivência com o clima, a maneira como os assentados produzem, suas relações com a natureza e o compromisso de cuidar da terra mostram o quão valioso é o lugar, palco de lutas e conquistas. Suas histórias de vida remetem ao significado inteiro da palavra resistência e lhes conferem o título de heroicidade frente à conservação do meio ambiente.