Um casal, Nick e Amy Dunne, prestes a celebrar cinco anos de casamento. Uma esposa que desaparece, sem deixar vestígios, no dia da celebração. Um diário que, tudo indica, traz pistas sobre o paradeiro e o fim dessa esposa. Um marido que se torna o principal suspeito do crime tão logo a polícia inicia as investigações. Esses são os elementos que sustentam os começos da narrativa de Gone Girl (Garota Exemplar, na edição brasileira), da norte-americana Gillian Flynn. Em capítulos que alternam os pontos de vista dos dois protagonistas e narradores Nick e Amy, Flynn desenvolve então uma trama típica da literatura policial, que se transforma também, através de uma e outras reviravoltas e de estratégias narrativas diversas, em um estudo de personalidades desviantes - talvez até mesmo monstruosas – e em um retrato de um casamento perverso que rompe com a categoria da normalidade. O presente trabalho propõe discutir exatamente tais questões, com foco na relação entre os artifícios literários que Flynn emprega e as representações de crimes, pecados e monstruosidades e de seus agentes que daí resultam.