No ano de 1930, Florbela registrara seus últimos meses em um diário, levado ao público no ano de 1981 sob o título de Diário do Último Ano, em referência explícita ao derradeiro ano de vida da escritora, no qual a artista desnuda sua alma, sempre acrescida de fantasia, restando, pois, um texto limítrofe entre o confessional e o fantasioso. Partindo desse pressuposto, apresentamos este trabalho no afã de compreender, dentro do panorama do que se convencionou chamar de “Escrita de Si”, o engendramento do Diário de Florbela, equilibrando nossa leitura entre dois tênues meandros: o confessar e o ficcionalizar, sob a luz de duas possíveis motivações: o registro da história e/ou a criação de uma nova história para si, desembocando em uma “reconstrução ficcional da realidade” (Alves, 1997). Para tanto, como arcabouço teórico da escrita de si, destacamos como preponderantes os estudos de Junqueira (2003), Duque-Estrada (2009) e Klinger (2012), bem como, a necessidade de compreensão de uma maneira de Literatura nascida por volta do século XVIII (Gay, 1998), mas que só agora tem ganhado, por parte da Crítica Literária, notoriedade e motivo de pesquisa.