Embora aparentem totalmente opostas, ciência e religião podem ser entendidas como duas práticas importantes da cultura. Elas orientam e organizam o mundo em que vivemos, fornecendo explicações sobre sua estrutura e seu funcionamento. No âmbito do ensino de ciências, é muito comum surgirem situações que as colocam em debate, normalmente favorecendo um lado em detrimento do outro, quer por parte dos alunos, quer por parte dos professores, seja em nível básico ou superior. Uma das saídas para se contornar esse problema, é averiguar como os próprios cientistas enxergam a relação existente entre ciência e religião, encontrando exemplos nos quais essas duas expressões humanas conviviam de forma não conflituosa, e, a partir delas, possibilitar uma maior abertura de diálogo no ambiente de sala de aula, quebrando as barreiras extremistas, quer pelo lado da ciência, quer pelo lado da religião. O físico Ian Barbour criou uma tipologia que envolve quatro categorias nas quais os cientistas se encaixam quanto aos seus pensamentos a cerca da relação entre ciência e religião. Na relação de conflito, ciência e religião são mutuamente excludentes e de forma alguma compatíveis. Já no pensamento de independência, entende-se que a ciência e a religião são esferas tão diferentes que não tem nada a dizer uma sobre a outra. No pensamento do diálogo, existem interações indiretas e fronteiras menos rígidas entre ciência e religião, afirmando que as descobertas científicas não necessitam de crenças religiosas, mas os avanços científicos ajudam a religião a encontrar suas respostas. Por fim, há ainda a ideia de que é possível haver algum tipo de integração entre essas duas, tornando os limites que as separam muito frágeis. Um dos momentos ao longo do desenvolvimento da ciência que foi marcado pela quebra das certezas e vários paradigmas, é o período do desenvolvimento da Física Quântica, quando discussões teológicas, inclusive, eram comuns de ocorrerem à medida que a teoria ganhava mais fundamentos e interpretações. Sendo assim, entender como se dá a relação entre ciência e religião na concepção de cientistas que participaram do desenvolvimento da Física Quântica, categorizando-os segundo a tipologia criada por Ian Barbour, foi o objetivo deste trabalho, buscando encontrar exemplos de relações de maiores diálogos para servirem como meios de tentar aproximar essas duas visões no ambiente de sala de aula e na formação de professores. Esta pesquisa se deu pela análise de escritos do físico Heisenberg a cerca de diálogos entre ele e outros cientistas sobre a ciência e a religião, tendo como resultado que três dos quatro cientistas personagens dessas conversas se mostraram abertos para a relação de diálogo, conforme categoria de Barbour, podendo servir como exemplos para quebras de paradigmas em salas de aula e na formação de professores a cerca desse tema.