Durante muito tempo, os estudos literários foram realizados por meio de perspectivas dicotômicas que contemplavam a obra literária, ora como um sistema fechado, ora como um meio para a explicação dos fenômenos sociais. Em nossa análise, partimos do pressuposto de que o texto literário se articula à vida social e histórica, sem, contudo, perder a sua especificidade como objeto artístico. Nesse sentido, estamos considerando na análise comparatista entre a poesia de Jorge Fernandes, poeta norte-rio-grandense, e a de Carlos Drummond de Andrade, a relação entre texto e contexto, numa perspectiva dialética em que nenhum dos elementos é favorecido em detrimento do outro (CANDIDO, 1976). Partindo de tal compreensão, foi possível constatar que a poesia desses poetas aponta para a construção da história e do homem diante da modernidade e da realidade histórica que os circunda, dando a ver ao leitor uma lírica cujo teor social se caracteriza pela crítica à civilização moderna. Para tanto, tomamos como fio condutor as reflexões de Antonio Candido (1976), que compreende os dados externos em uma obra como elementos capazes de desempenhar certo papel na constituição de sua estrutura, tornando-se internos; Adorno (2003), cujo pensamento visa a uma maior elucidação do teor social inscrito em poemas, apontando a articulação entre o elemento artístico e a vida social.