Os recentes estudos acerca da produção literária de autoria feminina revelaram muitos talentos que, até então, eram desconhecidos do grande público. Seja seguindo diretrizes em voga dentro do viés contemporâneo, ou galgando os espaços culturais restritos dos séculos anteriores, a mulher consegue, pouco a pouco, imprimir a sua marca dentro da literatura. Dentre as grandes escritoras de nosso país, pode-se citar Júlia Lopes de Almeida como uma das pioneiras a se realizar profissionalmente no cenário cultural brasileiro. Ao vencer os paradigmas sexistas impostos na transição entre os séculos XIX e XX, Júlia Lopes construiu uma trajetória literária sólida, recebendo o merecido reconhecimento dos grandes nomes da época. Ao imprimir em seus trabalhos um tom de impactante consciência histórica, política e social, Dona Júlia começa a questionar os valores impostos pela sociedade, principalmente àqueles que relegavam à mulher uma posição de constante dependência da figura masculina. Sendo assim, na maior parte de suas obras, nos deparamos com personagens que, pouco a pouco, vão trilhando caminhos que buscam a igualdade de direitos entre os gêneros, por meios não mais utópicos, mas sim, completamente viáveis a qualquer mulher da época. Histórias da nossa terra é um dos trabalhos que deixa clara essa importante caracterização. Editado primeiramente em 1907 pela Francisco Alves editores, tal obra constitui uma fonte inesgotável de estudo não só sobre seu conteúdo, mas principalmente, pelas modificações que foram sendo impressas ao longo das suas vinte e uma edições. Pode-se considerar Histórias da nossa terra como uma composição de contos, cartas, relatos e fotos que combinados constroem a memória histórico-geográfica do Brasil do início de século XX. Levando em consideração as mudanças impressas no conteúdo da obra durante suas diversas edições, procura-se realizar um cotejo que possa dar conta das efetivas modificações que originaram a edição final, datada de 1930. Tal fato também nos conduz a uma investigação aguçada acerca das possibilidades de edição envolvendo o texto escrito em face da comunicação com os dados iconográficos presentes na construção da obra.