RESUMO: Este estudo propõe uma leitura de espaços afetivos de convivência com e na cidade, rememorados na obra Poema sujo de Ferreira Gullar. A rememoração nunca é idêntica ao vivido porque entre os acontecimentos do passado e o momento da recordação interpõe-se o contínuo temporal, bem como, as impressões de um sujeito que já não é o mesmo, no entanto, o ato de rememorar possibilita que lembranças sejam ressignificadas com o olhar do presente, sendo a subjetividade significativa nesse processo. A memória se constrói por meio de experiências vividas, mas o que se conserva como lembrança valorada repercute e ressoa como imagem que não escoa. Nos estudos empreendidos por Gaston Bachelard em A poética do espaço (1993), a dimensão interior é resultante da relação que o sujeito estabelece com espaços de intimidade. A cidade natal é um espaço de intimidade que exerce uma força de atração impulsionando as pessoas para dentro de seus compartimentos, ademais, a cidade tem valor pela noção de proteção e aconchego que proporciona. Diante disso, objetivamos analisar como os espaços citadinos de (com)vivências pretéritas repercutem como imagem na poética gullariana.