O presente trabalho visa investigar um caso representativo e, ao mesmo tempo, pouco estudado da relação entre a literatura e a medicina: a “[lou]cura” de Robert Walser. O campo das discussões a respeito da loucura, como um veículo de produção artística, teve inúmeras modificações desde as primeiras teorias biográficas e psicológicas do início do século XIX, em que a qualidade estética literária era determinada pela possível sanidade mental do autor. Internado por décadas no sanatório com a sua própria “permissão”, Walser dedica-se a elaboração de uma literatura menor, de uma arte que permitisse o seu próprio encolhimento, até mesmo, o seu desaparecimento. O escritor suíço costumava dizer ao seu amigo Carl Seelig que não estava no sanatório para escrever, mas sim para ser louco. A loucura para Walser foi uma forma de auto-salvação, pois, através dela, ele ganharia a “invisibilidade” que sempre almejou: 'Mas sou tão pequeno, eu. É a isto, a isto que me atenho firmemente, a ser pequeno, pequeno e insignificante' (WALSER, Jakob von Gunten: um diário). Para tanto, selecionamos como corpus ficcional as obras "El Paseo" e "Escrito a lápiz: micogramas I (1924-1925)" para analisarmos a relação entre a literatura e a medicina em Robert Walser.