AGUIAR, Ricardo Portella De. Dos bardos às máquinas que realizam desejos. Anais ABRALIC Internacional... Campina Grande: Realize Editora, 2013. Disponível em: <https://editorarealize.com.br/artigo/visualizar/4543>. Acesso em: 28/12/2024 05:26
Dos Bardos às máquinas que realizam desejosRicardo Portella de Aguiarhttp://lattes.cnpq.br/9587127623598732Os Bardos nunca foram meros recitadores de um texto imutável. Ao contrário, eram autodidatas inspirados pelos deuses e pelo auditório, livres para reagir aos apelos da audiência. Entretanto, isso não corrompia a obra original e, embora não possamos dispor de um original literário de um poema oral, “as várias versões que restam têm uma semelhança fantástica, como se copiadas de um original divino!” A aparição da escrita — “instrumento de poder das sociedades modernas” — e posteriormente a invenção da imprensa impulsionaram a transmissão de mensagens, que passaram a ser reproduzidas com muito mais precisão, em quantidade de detalhes e, principalmente, com facilidades técnicas inimagináveis nos tempos passados. Essas melhorias possibilitaram o acesso fácil e direto à produção artística. No mundo contemporâneo, é lícito supor que a Literatura no virtual só se tornou possível a partir da Tecnologia, dos engenheiros, dos matemáticos e dos informatas, que descobriram os semicondutores, desenvolveram a lógica binária e criaram as linguagens de programação. No ciberespaço, a produção de Literatura não é uma tarefa apenas do autor da obra, mas uma composição que conta com a participação de uma equipe multidisciplinar, tão silenciosa quanto necessária, que mantêm atualizadas todo o aparato tecnológico, uma vez que toda e qualquer inovação nas funções técnicas existentes ou na criação de novas facilidades que atendam às demandas dos artistas criadores, essas só serão possíveis desde que sejam desenvolvidos novos equipamentos ou produzidos novos Textos Digitais capazes de trabalhar os devaneios do inconsciente humano. A hibridação entre artistas e cientistas está enraizada na consciência cultural geral, já tendo sido tema de diversos autores da Filosofia e da própria Literatura. Nesse aspecto, tanto a arte interativa quanto a Literatura no virtual só se tornaram possíveis pelo emprego de instrumentos tecnológicos que trabalham as imagens e facilitam a ação do autor e do fruidor. É o fim do confinamento das obras de arte e da observação contemplativa, pois, com o suporte das ferramentas e dos Textos Digitais, o fruidor interessado pode ultrapassar o conteúdo manifesto, explorando a dimensão interativa ou mergulhando em significados ocultos, vasculhando o ciberespaço à procura de coisas não pensadas por outros admiradores da obra e, talvez, nem mesmo por seus autores. Nesta comunicação discutiremos a relação entre os contadores de histórias e o computador, considerado como um artefato tecnológico que, além dos cálculos e do armazenamento de informações comerciais e científicas, pode ser usado para a fruição — uma máquina que realiza desejos.