Este trabalho tem por objetivo discutir o problema do esmaecimento afetivo n’Os Versos Satânicos (2010), do escritor indiano Salmam Rushdie, que está relacionado com outros problemas do capitalismo tardio: o etnocentrismo, o conflito identitário, o hibridismo de culturas e o empreendedorismo da indústria cultural. A discussão concentra-se na história de vida do ator Saladim Chamcha e desenvolve-se com uma leitura sobre sua “morte” na Inglaterra, onde é preso por oficiais da imigração e passa a sofrer conflitos de identidade, violência etnocêntrica e abandono subjetivo, após sobreviver à queda de um avião junto com outro ator de cinema Gibreel Farishta. Como imigrante, Chamcha vive no entre-lugar, transitando entre culturas diferentes, enfrentando os preconceitos de raça, e, por conseguinte, a dificuldade de criar vínculos afetivos. A leitura focaliza a vingança de Saladim contra o outro sobrevivente que se livrou da prisão e reagiu com indiferença à sua detenção, fato que o levará a personificar-se de Iago e Gibreel de Otelo na narrativa. A análise acerca da fragmentação subjetiva na obra tem como suporte teórico os pensamentos de alguns escritores pós-estruturalistas: Jameson (2006), Hall (2005), Derrida (2002) e Bhabha (2010). O estudo mostra que o desaparecimento da subjetividade na obra faz parte de um grande arranjo da indústria cultural, que é movida pelo princípio do capitalismo tardio.