No cenário literário francês contemporâneo, destacam-se duas vertentes poéticas opostas, o lirismo crítico e a pós-poesia, que têm proporcionado inúmeras discussões por parte da crítica literária e de poetas vinculados a uma ou a outra tendência, cujos grandes representantes e teóricos são, respectivamente, Jean-Michel Maulpoix e Jean-Marie Gleize. Estas tendências poéticas em processo de construção e que se colocam como fruto do contexto sociocultural dos últimos trinta anos, tentam dar conta das urgências de sua época ao se contrapor a uma crítica literária que consideram esclerosada, ao apelo das mídias e do mercado editorial. Tanto o lirismo crítico quanto a pós-poesia procuram uma linguagem questionadora capaz de traduzir e expor a realidade contemporânea. Apesar das preocupações semelhantes, pós-poesia e lirismo crítico acabam por criar duas estéticas completamente diferentes: a primeira, deseja expressar a nudez integral ou o nu desnudado e a segunda, busca uma ilusória transfiguração crítica do real. Desta forma, pretendemos problematizar e compreender as diferentes linguagens formuladas pelo lirismo crítico e pela pós-poesia, confrontando-as entre si, por meio da análise de obras representativas dessas tendências, respectivamente, Histoire du bleu (1992), de Jean-Michel Maulpoix e Les chiens noirs de la prose (1999), de Jean-Marie Gleize, a fim de delinear estes diferentes mecanismos de exteriorização do presente, que estão constituindo aos poucos a poesia que poderá caracterizar este início do século XXI, não apenas na literatura francesa, mas também influenciar outras literaturas.