Solange Peixe Pinheiro de Carvalho (FFLCH-USP)Célia Luiza Andrade Prado (FFLCH-USP)Resumo:A obra da escritora norte-americana Kate Chopin se caracteriza por uma vívida apreensão da sociedade de seu tempo no sul dos Estados Unidos, patriarcal e escravocrata. Suas narrativas são marcadas pelas dificuldades encontradas pelas mulheres para ocupar um espaço dominado majoritariamente por homens; pela mistura das culturas francesa, negra e branca no ambiente da Louisiana, e pelos constantes questionamentos a respeito da questão da identidade racial e cultural. Nessa sociedade, a língua – o inglês fortemente marcado pelo francês – era uma presença constante,que produz um choque cultural quando confrontado com (segundo o Houaiss de regência verbal)o inglês padrão. Tradicionalmente, a tradução literária prioriza a norma culta mesmo que o dialeto se apresente como fator constituinte da construção não só das personagens, mas do espaço e tempo em que elas se inserem. A fala creole presente no conto Beyond the bayou remete-se à presença da ocupação francesa no sul dos Estados Unidos e tem implicações ideológicas e históricas. Sendo uma característica importante, acreditamos que o dialeto empregado por Kate Chopin na caracterização da personagem e da posição social que ela ocupa na história não deve ser ignorado pelo tradutor. Assim, tendo por base estudos dialetológicos, como os de Lane-Mercier, Holloway e Morvan, e o uso de elementos da oralidade para a criação das falas, o trabalho pretende analisar as questões que o uso do dialeto na narrativa suscita à tradução e apresentar algumas estratégias para transmitir ao leitor brasileiro as características linguísticas e culturais dos textos de Chopin.