Na impossibilidade da escrita das metanarrativas na atualidade, as mininarrativas que relatam a experiência individual tornam-se cada vez mais comuns (LYOTARD, 1984, XXIV). No entanto, esta forma de narrativa acessa novas linguagens, muitas vezes atenuando os limites que delimitam os gêneros e outras vezes transpondo mídias como é o caso da animação de Makoto Shinkai (1973- ) “Ela e o Gato d’Ela” (1999). Pelos critérios tradicionais, a transposição de mídias, ou seja, de diferentes formas de linguagens por si só eliminaria uma obra do contexto literário (EAGLETON, 2012). No entanto, uma vez havendo a possibilidade de se realizar um estudo literário em determinada obra, ou seja, a “apreciação” da “obra”, esta pode ser considerada como sendo pertencente ao ramo da literatura (LAMARQUE e OLSEN, 1994, p.256). “Ela e o Gato d’Ela” é a estória de um drama diário de uma jovem, sem nome, identificada somente como sendo a dona de um gato. O cotidiano da jovem é contado sob a perspectiva do seu gato, que se chama Chobi, sendo que o diretor/autor Shinkai dá voz ao personagem. Enquanto que a voz do narrador/personagem/ Chobi é escutada na obra, a maioria das falas da jovem são projetadas na tela, mesclando dessa forma a linguagem falada e a linguagem escrita. A obra, sendo assim, desconstrói os papéis do autor/diretor/Shinkai e do narrador/personagem/Chobi de forma que a narração torna-se uma miríade de vozes acessando inclusive uma voz coletiva da sociedade urbana japonesa descrita na obra. Esta comunicação objetiva apresentar um estudo das variadas vozes que são escutadas e “lidas” na obra através do fluxo de consciência (JAMES, 1892), do dialogismo (BAKHTIN 1997, 2008), e da intertextualidade (KRISTEVA, 1980,1984). Por meio deste, estudo visa-se demonstrar que há possibilidade de formação de novos gêneros híbridos transpondo-se as mídias e as variadas linguagens, além do uso de recursos visuais e sonoros. Portanto, a leitura da obra mostra que nesse gênero híbrido, há possibilidade de quebra na relação hierarquia que compõe os parâmetros utilizados para se definir a literatura tradicionalmente como a linguagem escrita e a linguagem falada, a linguagem elevada e a linguagem coloquial; a transcendência de experiências e a experiência individual e o ficcional e o factual (EAGLETON, 2012).