Este trabalho é parte de uma tese de doutorado em Sociologia, defendida no ano de 2011. Neste trabalho o objetivo geral era compreender as múltiplas representações do espaço rural no período de 1945 a 1964. Para isso, a pesquisa desenvolveu duas tipologias de análise do romance brasileiro de temática rural: as narrativas da limitação e as narrativas da revolução, ao passo que as cotejava com as interpretações que eram produzidas no campo do Pensamento Social e da Sociologia. A intenção desta comunicação é apresentar os resultados relativos às denominadas narrativas da limitação, produzidas em um contexto particular da modernização brasileira. Os romances analisados nesta tipologia foram: Terras do sem fim (1942), de Jorge Amado; Filhos do Destino (1954) e Chão Bruto (1955), de Hernani Donato; Vila dos confins (1955), de Mário Palmério; e O coronel e o lobisomem (1964), de José Cândido de Carvalho. Estas narrativas apresentam o rural como espaço das impossibilidades, da limitação dos indivíduos e marcado, em geral, pela ausência de movimentos de transformação. Nestas obras o rural se configura como um portador do atraso, como uma espécie de comporta social e fronteira geográfica para a modernidade capitalista, que elas ora lamentam ora celebram. As obras se concentram na tradução dos ajustes políticos, das dimensões culturais e econômicas que tornam a superação da opressão e da miséria algo profundamente difícil. O bucolismo irrompe em uma beleza que emerge tributada à paisagem física e natural do mundo que se esvai, abalada pela presença humana. Os indivíduos apenas circulam por ela aprofundando e destacando a limitação que a eles é imposta e da qual são, muitas vezes, os próprios agentes. A paisagem geográfica é destacada, inclusive, como contraponto à civilização, o que se articula a uma estrutura de sentimento bucólica em relação à natureza, tomada como negativa em relação ao humano. A posição política dos narradores tende, em geral, para posições de centro ou reformadoras. Violência, atraso, coronelismo, folclore, tradição e lentidão do tempo são algumas das características que sintetizam os elementos de consonância entre as obras investigadas. As narrativas também são construídas a partir da dualidade entre o tempo do progresso, típico dos espaços modernos, e o tempo do rural. O conflito entre eles explicita uma limitação dos personagens, uma impossibilidade de construírem e transformarem, haja vista que o rural é um espaço em decadência. Ele é, assim, um espaço para todas as formas de limitação, seja em função dos condicionantes do espaço social, ou a partir dos tipos de relação social que a ocupação econômica impõe ao espaço. Os narradores oscilam entre a celebração do progresso desenvolvimentista que dissolve aquele mundo atrasado, o que é incontornável, e a constatação de que as novas sociabilidades podem ser tão ou mais destrutivas.