A literatura desenha o homem e, ao fazê-lo, transfigura realidades. Desde os primevos tempos, a criatividade humana desfaz a história, espargindo-a em múltiplas memórias. São elas que resguardam as marcas da atuação do homem num mundo construído pelo símbolo e pelo imaginário. Assim é o folheto de cordel: um gênero que volatiza a realidade, transformando-a consoante os desejos do eu. Enquanto expressão ímpar da cultura popular, o cordel faz sobreviver os valores, as tradições e as crenças de um povo, cujo imaginário social, embora sofrendo as coerções da modernidade, continua a alimentar, de forma consciente ou não, os mitos e os discursos que permeiam a sociedade. Transcodificando acontecimentos históricos, revela-se como elemento etno-literário capaz de (re)constituir sentidos que reverberam deslocamentos identitários próprios de dado tempo e espaço. Este trabalho, respaldado pela semiótica greimasiana, tem como objetivo examinar as estruturas discursivas do folheto de cordel O último dia de Lampião, observando como se realizam e se organizam os percursos de cada sujeito semiótico em busca de seu objeto de valor. Ademais, procurou-se identificar as modalidades instauradoras dos sujeitos, na medida em que esse procedimento permite desvelar valores axiológicos que se encontram subentendidos às performances de tais actantes. Os estudos desenvolvidos pelos semioticistas PAIS, FIORIN e BATISTA constituem as fontes teóricas que orientam a referida pesquisa.