Partindo do pressuposto de que a sociedade encontra-se fundamentada em preceitos e valores que regem os modos de se viver, impondo aos sujeitos formas de se portar frente a sua subjetividade, bem como nas relações sociais, pode-se afirmar que em muitas situações há certo estranhamento, instaurado pelo não reconhecimento de si nos traços delineados pelo outro, no que concerne, sobretudo, aos comportamentos pré-determinados para o masculino e para o feminino. Espera-se, pois, da figura masculina, que se porte com racionalidade, com virilidade e sem nenhuma demonstração de afeto, além de, para afirmar-se enquanto homem, precisa enquadrar-se em determinado “perfil”. O conto em questão narra os conflitos vivenciados por um adolescente que não se sente representado pela identidade imposta a ele pela sociedade no geral, que cobra do garoto comportamentos que este não se sente à vontade para cumprir, fato que causa desconfiança acerca de sua sexualidade. Diante disto, faz-se relevante problematizar e desmistificar, no contexto de ensino, que o processo de construção da subjetividade, quer masculina quer feminina, não deve se restringir a padrões mediados pelo machismo, pelo patriarcalismo e tampouco pela misoginia. O sujeito, enquanto ser social, vê-se imerso em um construto discursivo-ideológico que tende a reproduzir outros discursos que, entendidos enquanto construções sócio-históricas, podem carregar consigo valores que subalternizam o outro, não considerando que a alteridade se faz necessária, sobretudo na educação. Nesta feita, objetiva-se, com este artigo, apresentar, a partir do conto “E se fosse”, da escritora paraibana Maria Valéria Rezende, uma proposta didática literária, tendo como referencial teórico as reflexões de Cosson (2014; 2016), Colomer (2005), acerca do letramento literário, bem como os estudos de Butler (2016), Nolasco (1993, 1995), dentre outros, no que concerne às discussões de gênero.