Este artigo decorre de reflexões e experiências escolares a partir da leitura obra Menino de Engenho do autor paraibano José Lins do Rêgo, por uma turma de 9º ano do Ensino Fundamental, no Município de João Pessoa. O trabalho constitui um recorte de um projeto incentivado pela Prefeitura de João Pessoa, intitulado “Ano Cultural”, cujo objetivo principal é homenagear personalidades paraibanas que se destacam ou destacaram-se no cenário cultural brasileiro. O enredo do livro é marcado por uma estrutura social patriarcal, típica do período colonial escravocrata, onde a figura masculina autoritária constitui um traço determinante nas relações sociais que se estabelecem na narrativa de José Lins, denunciando a violência como um componente naturalizado no discurso e na sociabilidade da cultura nordestina. Desta forma, o trabalho teve como objetivo oportunizar uma experiência literária que propiciasse reflexões, de modo a ampliar percepções acerca das relações de gênero que permeiam a trama da obra, analisando as marcas do patriarcado presentes no contexto histórico e social que caracterizam o romance. As contribuições teóricas que embasaram as discussões foram: Albuquerque júnior (1999), Scholz (1996), Scott (2005), Rohden (2006); Moreno (1999); Coutinho (2000), Moreira e Candau (2013), entre outros. A partir das atividades de leitura, debates, apresentações orais e uma encenação de teatro, os alunos puderam refletir, expor suas opiniões e resignificar práticas da cultura nordestina narradas por José Lins do Rêgo, correlacionando-as com seus cotidianos e ampliando seu conhecimento acerca das relações de poder que segregam os gêneros e naturalizam formas de relacionamentos abusivos e violentos. Acreditamos que trabalhos como esse contribuam para despertar o sentimento de luta contra a violência presente nas sociedades patriarcais, que escravizam e reduzem homens e mulheres a estereótipos, impedindo construções identitárias e formas de relacionamentos mais livres e heterogêneos.