Neste trabalho, pretende-se apresentar algumas considerações sobre o samba de roda das margens do Velho Chico, na região de Xique-Xique, estado da Bahia, o qual se constitui em uma manifestação cultural de grande expressividade para seus povos, destacando-se o seu papel na consolidação da memória cultural local e na construção das identidades ribeirinhas. Para tanto, há que se abraçar, nesta viagem pelas águas moventes e transitórias da cultura da região, elementos como a performatividade, a musicalidade e o próprio texto literário, que contribuem para a negociação das tradições culturais locais, mantendo vivas as memórias da região. Estes elementos podem ser tidos como fios que compõem a trama responsável pela tessitura das identidades destes povos. Identidades estas, que se encontram em estado perene de movência e fluidez, assim como as águas do próprio rio, pois a todo momento, tais identidades se descentram, se fragmentam e se deslocam entre as margens, buscando reinventarem-se para seguirem navegando nas águas das tradições. Esta manifestação literária, musical, coreográfica, poética e festiva, tão expressiva como o samba de roda, é capaz de representar a cultura popular, de evidenciar suas marcas identitárias, pois se constitui de letra (texto oral poético), que ainda se completa com outros aspectos capazes de enriquecer toda a textualidade. Serão tecidas considerações acerca de um simbolismo de uma ancestralidade que, na maioria das vezes, tem resistido ao preconceito etnicorracial e se impõe enquanto memória e história na formação das identidades culturais do lugar, para além dos estereótipos. Pretende-se ressaltar a pluralidade das memórias e das identidades, além da presença de marcas da afrodescendência, como elementos de resistência e de aquilombamento. Com o objetivo de melhor compreender esta tessitura das identidades ribeirinhas, o caminho metodológico escolhido buscou seguir os princípios e determinações da pesquisa qualitativa de cunho etnográfico, tendo como aporte metodológico as trilhas dos estudos culturais. Para tanto, tornou-se fundamental a pesquisa bibliográfica e documental sobre a temática em discussão, bem como uma pesquisa de campo, ainda em andamento, com grupos de samba que atuam na região, para aplicação de entrevistas informais e despadronizadas, registro e gravação das rodas de samba, suas letras e performances das sambadeiras e sambadores.