Resumo: Sugerindo que o ideário amoroso sobre a felicidade imortal na companhia do outro não se sustenta mais, e que os conceitos que permeiam as relações precisam ser revistos, o livro Nada a dizer, de Elvira Vigna, é um convite e viagem pelos conceitos do amor e pela exacerbação da vivência do afeto na trajetória da protagonista feminina. O percurso vivencial do par amoroso contempla, além do amor romântico, novas formas de entender a vivência amorosa, tais como o amor líquido, e o que ela, a personagem, concebe como ‘amor vagabundo’, tecendo um rico panorama dos afetos pós-modernos. A enunciação marcadamente subjetiva e feminina resulta num discurso de emoção passível de revisitação de conceitos de base teórica vinda de Octavio Paz, Roland Barthes, Georges Bataille, Jurandir Freire Costa e Zygmunt Bauman. Da exacerbada dimensão do sofrimento amoroso e da especulação conceitual feita pela própria personagem em torno de sua vida amorosa, decorre o surgimento do novo conceito de amor que se diferencia do conceito de ‘amor líquido’ de Bauman, e possibilita análise do que ela denomina ‘amor vagabundo’, (re)desenhando para os relacionamentos afetivos atuais um mundo de ambiguidades e de fluidez acentuadas. O mal sucedido desejo de restabelecimento da paz amorosa resulta em conflito vivencial, esvaziamento e perda de identidade da personagem. Vendo-se incluída em um estranho pertencimento, o dos sujeitos que vivem um amor ‘vagabundo’, após intenso esforço, a protagonista atinge a compreensão e, posteriormente, a introjeção do conceito que lhe sugere a experiência amorosa que vive. Romance de circularidade quase monofônica e de silenciamento da voz masculina, tendo a protagonista personalidade e voz atuante, sente-se, ao final, destituída de voz, a voz que não mais tem, a da solução dos problemas, como lamenta. A julgar pelo árduo e confessional sofrimento amoroso da protagonista, e pela busca desesperada da felicidade no amor, pode-se inferir que, em oposição ao ‘esmaecimento dos afetos’ e ao ‘desaparecimento do sujeito individual’, como sugere Frederic Jameson, a narrativa é exemplar na exortação da vitalidade do afeto, problematizando-o com especificidades próprias de um mundo com novas categorias e nova face afetiva.