AZEVEDO, Luciene Almeida De. Romances e não-romances. Anais ABRALIC Internacional... Campina Grande: Realize Editora, 2013. Disponível em: <https://editorarealize.com.br/artigo/visualizar/4414>. Acesso em: 07/11/2024 09:59
Romances e não-romances.Luciene Azevedo (UFBA)Ao estudioso da forma romance, chama a atenção o número de referências críticas que comentam mais uma transformação experimentada pelo gênero no começo do século XXI. Desde as anotações de Barthes, feitas para seu curso sobre a Preparação do Romance, até dicções mais veementes como as do ensaio-manifesto “Literatura pós-autônomas” de Josefina Ludmer, é possível ler uma drástica operação de esvaziamento sofrida pela literatura na contemporaneidade, afetando o romance como forma de ficção pura. Nesse sentido, sem negligenciar a extensa bibliografia teórica sobre o romance que não se cansa de realçar a instabilidade de sua forma como traço característico do gênero, gostaria de aproveitar esse mote e arriscar a hipótese de que alguns exemplos contemporâneos sugerem novas maneiras de fabricar e consumir literatura hoje, que apontam para a remodelação das fronteiras do gênero romanesco. Flertando com o ensaio, com a prática da anotação ou com a autoficção, os romances parecem exceder a forma do próprio romance, expondo ao leitor a manufatura do processo de composição, descartando a própria literatura como fonte da produção literária. Sem ceder, portanto, à retórica apocalíptica de mais uma morte do romance ou do fim da literatura, a hipótese reconhece no romance seu estatuto genérico impreciso e aposta que sua plasticidade cambiante é capaz de remodelar os valores literários, incorporando o que ainda não parece romance ou ficção ao território da literatura.