A narrativa oral desempenha uma função secundária na crítica literária desde o século XVIII, sendo evocada como literatura marginalizada, porque se manifesta em espaços coletivos. Essa tradição de pensamento tem desprestigiado a forma narrativa, causando continuamente um cisalhamento entre oralidade e escrita. O ponto que influenciou a oposição entre a oralidade e a cultura escrita foi a tecnologia do mercado impresso, que foi um salto na produção dos meios de comunicação de massa. Com isso, o interesse pela narrativa oral levou um longo período para adentrar no pensamento contemporâneo, considerando que o termo ainda causa uma sensação desconfortável para aqueles que não superaram o padrão de literariedade canônica. Nesse sentido, o pano de fundo sobre as narrativas orais indígenas são pensadas com intuito de verificar se uma sociedade pode ser representada pelas suas histórias, e examinar como essas histórias concorrem para a propagação de práticas culturais, considerando que a ligação que alguns indígenas têm com valores tradicionais é muito forte, pois é fruto da memória cultivado dentro de um contexto que se apresenta cada vez mais multíplice. Por trabalhar com a oralidade, registrando as histórias coletivamente compartilhadas na comunidade indígena São Jorge-RR, adotei os procedimentos metodológicos da história oral. Por hora, ao propor a reflexão sobre narrativas orais indígenas, busquei mostrar a cultura e as histórias dos povos indígenas no contexto das relações étnico-culturais ainda bastante desiguais no Brasil, por causa do despreparo em saber lidar com as diferenças no tocante às práticas culturais específicas.