Sabemos que o processo de migração não é um evento novo, nem muito menos uma novidade temática na ficção literária. No romance Essa Terra de Antônio Torres, entretanto, encontramos o tema da migração nas linhas de sua narrativa de uma forma peculiar: a migração ocasiona mais do que um ultrapassar fronteiras, ela agencia uma redefinição da identidade do sujeito que vive em contato com valores, linguagens, culturas diferentes. Nesse sentido, buscamos compreender, no romance Essa Terra, como a formação da subjetividade e identidade do sujeito contemporâneo e a fragmentação na/da estruturação do texto narrativo refratam e refletem (utilizando-nos aqui da expressão bakthiniana) os efeitos do processo de migração nordestina sobre um indivíduo que vive entre culturas e realidades diferentes. O presente trabalho é constituído por uma pesquisa bibliográfica, com abordagem qualitativa, tendo como fundamentação teórica os trabalhos de autores que tratam do tema em questão como Stuart Hall, Fernando Ortiz, Paul Ricouer, entre outros. Observamos no romance que viver entre culturas, valores, linguagens diferentes ocasiona uma fragmentação na identidade do sujeito. Por outro lado, identificamos que em Essa Terra a identidade fragmentada relaciona-se com a fragmentação na/da estruturação da obra: os personagens vivenciam experiências temporais diversas, uma vez que a história não segue uma ordem cronológica de tempo, por sua vez, com as mudanças de tempo ocorre em alguns momentos a mudança de narrador, isto é, o tempo é fragmentado assim como também o narrador apresenta diferentes nuanças. Entendemos, então, que há em Essa Terra uma formalização estética do fator social, pois a fragmentação na/da estruturação da narrativa refrata, na verdade, as identidades fragmentadas dos personagens. A migração e seus efeitos sobre o sujeito ganham outra ordem representativa na obra, que pelo distanciamento estético não se confundem com um re-apresentar de um dado do mundo empírico.