Octavio Paz, em texto de Signos em Rotação, “Os Novos Acólitos”, comenta as vanguardas anglo-americanas dos anos 1950 e 1960, Geração Beat incluída. Faz uma comparação entre estas e aquelas europeias, de 1915-1930, encontrando semelhanças no papel da poesia em ambos ambientes – antecipadora e preparadora do surgimento de uma nova visualidade pictórica. Também anota a relação entre as vanguardas americanas e o Surrealismo e outras vanguardas europeias como a russa, mormente em Khliébnikov e Maiakóvski. A partir da descrição de algumas similaridades, Paz se utiliza dessa abertura como gancho para abordar outro tema – a influência de tal produção estadunidense na América hispânica. Apesar da “dívida” entre as gerações, Paz não nega a importância dos movimentos ao norte do Rio Bravo, mas enxerga limitações na sua expansão. Sua principal crítica foi à suposta alienação destes novos autores hispânicos em relação a sua própria tradição poética. Segundo Paz, o moderno jogo de movimentos e manifestos da poesia envolve a tradição da ruptura, onde os novos criadores se opõem aos antigos, e assim vão fazendo a nova história literária e cultural de uma comunidade. Mas para se opor, é necessário conhecê-la, e Paz não acredita que estes criadores a conheciam, estes “novos acólitos”, ou seja, os tais autores latino-americanos que buscavam nessa poesia anglo-americana, sua tradição. Acreditava que esta produção era apenas repetição e tradução, e que tais entusiastas nativos acompanhavam o rito “de fora” e o compreendiam “pela metade”. Assim como Paz usou a comparação entre vanguardas como gancho, para abordar a (para ele incômoda) relação entre parte dos jovens escritores hispânicos dos anos 60 e 70 e as vanguardas norte-americanas dos anos 50; nós utilizamos aqui o que ele disse como gancho, para começar a tratar da influência Beat na América Latina. Porque deste pequeno texto podemos tirar muitos vetores que dominaram a discussão muitas vezes polêmica desta relação de influência literária dentro das Américas. É possível observar, por exemplo, o preconceito da elite cultural latino-americana com a propagação de princípios da Geração Beat em seus “territórios”. O influente poeta e ensaísta mexicano simplesmente desconsiderou essa produção. E colocou como verdadeira vanguarda os concretistas, que também não reconheciam a poesia beat brasileira como legítima. Apesar deles, diversas cenas culturais na América Latina fizeram história dialogando com a Geração Beat. Tal diálogo se deu principalmente através da poesia, sendo Allen Ginsberg a maior referência, como o próprio Octavio Paz atesta. Mas houve também escritores de prosa onde a influência específica de On the Road, por exemplo, foi marcante. Acreditando na legitimidade desta arte, é nosso interesse, nesta apresentação, comentar algo desta produção. Atentando a produções publicadas nos dois países para onde On the Road foi vertido: Argentina e Brasil; e também naquele que foi o mais visitado e influenciado pela Geração Beat na América Latina: o México. Observando a história da tradução argentina e brasileira, seus contextos culturais – e grupos que dialogaram, como os autores da chamada literatura de la onda mexicana.