Por diversas vezes em suas muitas entrevistas ao longo da década de 1980, o autor alemão Heiner Müller, um dos mais importantes dramaturgos da segunda metade do século XX, atribuiu aos países da periferia, então terceiro mundistas, a alcunha de ‘ilhas de desordem’. Segundo Müller, estes seriam os únicos lugares capazes de contestar a hegemonia europeia e sua racionalidade predatória e decadente. Quase trinta anos depois, três autores latino-americanos, completamente desconhecidos dos palcos brasileiros, diga-se de passagem, comparecem com uma dramaturgia rica e diversificada, apta a ecoar a desordem pedida por Müller ao abordar de modo crítico e inovador temas como a repressão e a violência dos regimes latino-americanos, a memória e o desejo de utopia, entre outros. Gustavo Ott, Dois amores e um bicho, Mikael Rodríguez de la Cruz, Daniel e os leões, e Claudia Eid Asbún, Desaparecidos, são as vozes que oriundas respectivamente da Venezuela, de Cuba e da Bolívia, propõem um teatro comprometido com a dissolução das formas convencionais e desejoso da bem-vinda desordem do delírio e do sonho, elementos indissociáveis da constituição da liberdade humana.