Este artigo apresenta uma análise preliminar da obra O amanuense Belmiro, de Cyro dos Anjos, e se propõe a traçar algumas reflexões no tocante ao lirismo e ao tom melancólico que perpassam toda a narrativa desse livro ímpar no panorama literário brasileiro. Trata-se de um romance atípico dentro da ficção da década de 1930 por ser uma voz dissonante comparada às produções regionais e sociais da época. Sua temática mescla entre o homem e sua relação com a vida; a profissão e a arte; o presente e o passado; o amor e as frustrações. O texto é escrito em forma de diário e deixa transparecer uma linha tênue entre o memorialismo e a semiautobiografia, pois Cyro foi um escritor que “procurou estabelecer um amálgama da realidade de dentro com a de fora”. Sendo assim, focalizaremos a obra sob o aspecto de uma possível estética da melancolia, algo voltado para uma concepção de melancolia criativa. Sabendo que uma obra literária é infinita em seus significados, cremos que O amanuense Belmiro suscita outras nuances. Isto nos dá a certeza de que este não é um trabalho finalizado, uma vez que as discussões abordadas não se restringem a olhar o texto cyriano somente nessa ótica, visto que novas leituras críticas ampliarão o campo de questões não destacadas, mas merecedoras de atenção.