Com a publicação de Sagarana, em 1946, novamente o regionalismo estava em pauta na literatura brasileira, tendo como foco o sertão mineiro e sua dimensão remota. Esse mundo rural, multicolorido e exótico, apresentado em linguagem singular, revela, por certo, nova concepção do que se convencionara chamar regionalismo. Dez anos depois, Corpo de baile, um conjunto de sete narrativas, acentua o caráter inovador conferido ao elemento regional, ora imbricando-o, ora diluindo-o ao discurso poético e à composição diferenciada das personagens centrais. Com base, notadamente, em duas narrativas de Corpo de baile, "Dão-lalalão - o devente" e "Buriti", a pesquisa revela que a obra de 1956 já avança na concepção do regionalismo, o que possibilita revisitar essa produção rosiana, com a distância estética que o século XXI permite, e traçar novas diretrizes analíticas. Além da leitura atenta dos textos selecionados, cabe registrar a contribuição teórica dos artigos "A nova narrativa", de Antonio Candido; "De Sagarana a Grande sertão: veredas", de Benedito Nunes, "O mundo misturado - romance e experiência em Guimarães Rosa", de Davi Arrigucci Júnior" , "Guimarães Rosa e o processo de revitalização da linguagem" e "Discursos, fronteiras e limites na obra de Guimarães Rosa", de Eduardo Coutinho e "João Rosa, viator", de Ana Luiza Martins Costa. Para a análise do elemento regional, valemo-nos principalmente de Ser-tão natureza - a natureza em Guimarães Rosa, de Mônica Meyer. O estudo da dimensão poética do discurso direciona-nos aos textos O ser e o tempo da poesia, de Alfredo Bosi e "Línguística e poética, de Roman Jakobson. Na pesquisa, as cartas trocadas entre Guimarães Rosa e seus tradutores agregam referenciais importantes, que constam nos livros: Correspondência com seu tradutor italiano Edoardo Bizzarri e Correspondência com seu tradutor alemão Curt Meyer-Clason. O resultado final atesta que, entre as virtualidades do escritor mineiro, está a capacidade ímpar de apresentar o universo regional redimensionando-o, o que faculta a inserção do local e do particular nas formas de representação da cultura universal, transcendendo, de modo indelével, o elemento regional.