A importância de Maria Luiza Remédios como pesquisadora e divulgadora da literatura portuguesa no Brasil ampliou-se a um novo desafio nos anos 90: organizar o que viria a ser o ALJOG, Acervo Literário de Josué Guimarães. Em seu trabalho, na liderança desse acervo, Maria Luiza Remédios passou a coordenar a preservação, a organização e a classificação dos aproximadamente 8.000 itens do ALJOG, produzindo uma significativa obra sobre um autor até então pouco estudado nos grandes centros acadêmicos do Rio Grande do Sul, embora bastante lido pelo público em geral mesmo anos após sua morte. Sobre Josué Guimarães, organizou uma coletânea, Josué Guimarães: o autor e sua ficção, publicou um inédito, com notas, As muralhas de Jericó, além de escrever para vários periódicos e de orientar dissertações e teses sobre a obra do escritor gaúcho. Seu trabalho, nas referências de investigação sobre o autor de Camilo Mortágua, rumou para o estudo da autobiografia, produzindo estudos sobre o tema, em específico na obra Literatura Confessional - Autobiografia e Ficcionalidade, como organizadora, e no artigo “O empreendimento autobiográfico: Josué Guimarães e Erico Veríssimo”, na obra As pedra e o arco, coletânea organizada por Regina Zilberman et al. Os estudos sobre a obra de Josué Guimarães, em momento posterior de pesquisa, rumaram para o projeto de elaboração de uma biografia do autor. Tal ideia, contudo, impossibilitou-se, como um projeto inacabado. Isso não impediu, de outra parte, sua marcante participação no documentário A Jornada de Josué, produzido pela UPFTV, com direção de Deisi Fanfa e roteiro de Miguel Rettenmaier. A Jornada de Josué é um documentário comemorativo aos 90 anos de nascimento do escritor Josué Guimarães, associados aos 30 anos de existência das Jornadas Literárias de Passo Fundo. Josué Guimarães foi o primeiro autor a dar respaldo à ideia de se fazer um encontro entre leitores e escritores em Passo Fundo, cidade que seria, em 2006, oficialmente reconhecida como Capital Nacional da Literatura. O audiovisual costura depoimentos de escritores, pesquisadores, amigos e familiares do autor, os quais tratam de sua vida jornalística, política e literária, ressaltando também sua importância como formador de leitores. Dentre os entrevistados estão Moacyr Scliar, Lya Luft, Luis Fernando Verissimo, além de Nydia Guimarães, viúva do escritor, e de seus filhos. O documentário conta também com importantes depoimentos de Maria Luiza Remédios sobre a obra do autor e a pesquisa em acervo literário. O presente trabalho pretende associar os estudos sobre autobiografia de Maria Luiza Remédios com a biografia filmada de Josué Guimarães no referido documentário. Nesse estudo será observada a natureza dinâmica de um acervo literário quando se acionam elementos afetivos vinculados à memória das pessoas, dos entrevistados, para constituição de uma história de vida. A base teórica do trabalho consiste nos estudos de Remédios, sobre autobiografia e sobre a obra e a vida de Josué Guimarães, e de Lejeune, sobre autobiografia.