Em 2010, a UEFS Editora e a Fundação Pedro Calmon, na Bahia, publicaram a edição fac-similar, num único volume, dos vinte números – publicados entre 1972 e 2005 – da revista Hera. Principal publicação de um grupo de escritores que levava o mesmo nome, mais do que um importante veículo de divulgação da poesia do grupo, Hera foi o núcleo de um dos mais produtivos movimentos literários do Brasil no último quartel do século XX. Em seus quarenta anos e vinte números, a revista, publicou, “exatos, cem autores” (PEREYR, 2009, p. 150), a maioria dos quais até então inéditos. Chama a atenção, na poesia do grupo, uma forte tensão com a modernidade. Em consonância com o que Paz (1984) chamou de tradição da ruptura, a melhor poesia publicada em Hera afirma a modernidade ao mesmo tempo em que a nega. Tal tensão transparece na linguagem, na rejeição de um mundo moderno que reifica a tudo, e mesmo na rejeição de parte da poesia de seu tempo. O “Manifesto do Grupo Hera”, publicado tardiamente (em 1985, no 15º número da revista) revela muito da relação dos poetas do grupo com a modernidade, com a tradição literária e com poesia de seu tempo. A leitura desse manifesto e da poesia do grupo revela a luta desses poetas com as palavras, a fim de “domar o caos” – o deles, e, também, o nosso.