Este artigo tem como objetivo refletir sobre o consistente diálogo transtextual que a poesia eminentemente metalinguística de João Cabral de Melo Neto trava, desde a sua constituição, com a pintura, atribuindo a esta arte visual, dentre aquelas tradicional e modernamente constituídas (arquitetura, escultura, teatro, cinema, televisão), o status de influência mais pontual sobre o construtivismo cabralino já em seus primórdios. Empenhado na elaboração de uma dicção poética capaz da maior aproximação possível entre signo e imagem, João Cabral comumente situava a representação na confluência entre linguagens. A constância com que buscou traçar paralelos entre a pintura e a poesia, buscando adaptar recursos, técnicas e soluções estéticas, sugere a importância que o poeta pernambucano conferia à visualidade no poema, característica que marcou de forma peculiar o seu trabalho de linguagem em todas as suas fases. Centrando o foco da análise sobre os dez primeiros anos da produção poética do autor, mais diretamente influenciada pela pintura surrealista e cubista, o presente artigo estuda dois poemas do livro inaugural, Pedra do sono (1943), “Homenagem a Picasso” e “Espaço Jornal” e um poema de Serial (1953), “O sim contra o sim”. Considerando tais questões em função da interface metalinguística dos poemas, o que pressupõe considerar todos os aspectos fundamentais ligados à leitura, a análise aponta para a recepção do texto como fator de significativa relevância para a constituição da imagística pictórica na poesia visual de João Cabral de Melo Neto.