O fato de que a poesia de William Blake estabelece um diálogo tanto com a tradição iluminista quanto com romântica sem, no entanto, se afiliar nenhum deles tem ocupado os scholars blakeanos há pelo menos 50 anos. Críticos como W. J. T. Mitchell e Molly Anne Rothenberg têm demonstrado que este diálogo resulta em uma textualidade que desloca aspectos centrais não somente do Iluminismo ou do Romantismo, mas da crítica literária e até mesmo da tradição ocidental humanista, tais como as noções de sujeito, texto, identidade e transcendência. Em obras já clássicas da crítica blakeana, tais como Blake’s Composite Art e Rethinking Blake’s Textuality, esses críticos demonstram como a textualidade de Blake traz elementos característicamente associados às práticas textuais e críticas do pós-estruturalismo. Tal percepção tem causado um certo realinhamento da crítica blakeana sobretudo nos EUA, mas é a origem da difuculdade que a obra poética de Blake tem tido de penetrar em países como o Brasil. Examinaremos, neste trabalho, como as noções de “descentramento do sujeito”e “desautorização da autoridade”, que Rothenberg desenvolve em sua análise do poema Jerusalem, podem lançar luzes sobre a resistência da crítica brasileira à poesia de Blake.