RIBEIRO, Helano Jader Cavalcante. Queima de arquivo: um mal do arquivo. Anais ABRALIC Internacional... Campina Grande: Realize Editora, 2013. Disponível em: <https://editorarealize.com.br/artigo/visualizar/4331>. Acesso em: 21/11/2024 19:02
A palavra grega arkhê designa, ao mesmo tempo, começo e comando, daí vem também a palavra do arkheîon para casa ou um domicílio de magistrados superiores, ou os arcontes, que tinham o controle sobre os documentos oficiais e também o poder de interpretá-los. O conceito de arquivo, no entanto, enfrenta um paradoxo: a reunião do arquivo pressupõe também sua destruição. Este será o percurso desta comunicação. Ela intenta um diálogo com o conceito de arquivo, assim como com o que Jacques Derrida chama de "Mal de arquivo". O conceito de arquivo, por meio do anacronismo, delinea as dobras da virada para uma teoria da memória que fuja ao modelo de chrónos, impondo uma leitura de tempos intensos, kairós. A escritura, maldita na modernidade, representa perigo, é associada ao vazio, ao silêncio, ao jogo. Ela pode, desta forma, resistir, subverter. Foi preciso, muitas vezes na história, destruir, apagar, extinguir a escritura, ou até mesmo a impronta, a marca, o rastro, o arquivo, a biblioteca. Por queima de arquivo entendemos comumente a execução de uma testemunha importante e que poderia denunciar executores de um delito. Apagar o arquivo, dessa forma, é apagar as pistas do crime. Aquele que detém o arquivo, nesta lógica, detém o poder, ou a potência de mudar a história. Apaga-se o detentor do arquivo, ou o arconte (e nesse caso, arquivo e arconte se confundem), porque se acredita, através de uma transferência de valores, extinguir o próprio arquivo. Do morto só restam cinzas e as cinzas, ao contrário do que se pensa, não são apenas o resultado de um arquivo extinto, mudo. As cinzas falam pelo morto secretamente. A discussão crítica será perpassada, principalmente, pelo pensamento de Didi-Huberman, Walter Benjamin e Jacques Derrida.