Como estamos pensando os conceitos de Literatura, Leitura e as relações entre ambos em âmbito escolar? Ainda insistimos em uma concepção dada e essencializada do que seria Literatura ou o objeto literário, ou estamos prontos para lidar com a literatura no campo multifário dos objetos culturais de todos os tempos que se sobrepõem no presente? Os conceitos de leitura que empregamos, como profissionais de Letras e/ou professores de Educação Básica, dão conta de entendê-la como procedimento de ressignificação? Em que medida conseguimos pensar, no âmbito da prática contemporânea do ensino de Literatura para o Ensino Médio, ainda disposta nos currículos e materiais didáticos brasileiros, hegemonicamente, em termos de uma historiografia cronológica e nacionalista, o fazer sentido do texto no presente? Onde está nossa abertura para o texto não-escrito no Brasil, ou não-lançado originalmente em língua portuguesa, e para seus pontos de contato com outros textos, com outros tempos, com outros territórios? A partir da advertência-desafio de Roland Barthes em "O grão da voz", para quem, à pergunta “pode-se ensinar literatura?”, caberia a contestação “é só isso que se há de ensinar”, tendo em vista desenvolver o gozo da dúvida, ou ainda, entender que todo o acesso que temos ao mundo se dá em linguagem, que tudo o que temos sobre o mundo são ficções, pretendo confrontar conceitos de Literatura e de Leitura veiculados em diferentes coleções de livros didáticos aprovadas pelo PNLD com a proposta diferenciada e desconstrutora feita por Daniel Link nos anos 90 para a educação argentina, na série chamada Literator. A partir dessas leituras, farei uma análise das práticas desenvolvidas dentro do Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Santa Catarina, especialmente no trabalho com o audiovisual e com a Iniciação Científica nos Ensinos Fundamental e Médio, propondo alternativas metodológicas alicerçadas justamente nessa revisão conceitual e no confrontamento da centralidade do literário com um pensamento que o recoloque justamente como a possibilidade de ficcionalizar o mundo e o próprio sujeito, produtor de mundos.