Este trabalho tem o objetivo de investigar como se dá a utilização dos recursos do fluxo de consciência e do monólogo interior no conto “Os laços de família”, de Clarice Lispector. Para que essa tarefa seja cumprida será realizada uma contextualização histórica e crítica a respeito dos dois recursos em questão, passando especialmente pela larga utilização que deles foi feita por alguns autores do século XX (como Marcel Proust, Virginia Woolf e William Faulkner) bem como um breve histórico do livro onde o conto foi incluído (no caso, Laços de Família, publicado em 1960) e da sua autora, considerada uma das vozes femininas mais relevantes de nossa literatura. Esses dois momentos distintos convergirão ao final do presente trabalho, quando os conceitos de fluxo de consciência e monólogo interior serão aplicados ao conto de Clarice Lispector, sem a pretensão de submeter a escrita clariceana a esses dois recursos como únicas perspectivas válidas para a interpretação do conto em questão, mas sim evidenciando a importância que estes dois mecanismos narrativos possuem para o estilo da autora (no que diz respeito a construção de personagens, desenvolvimento da narrativa e construção temporal) e, consequentemente, para sua obra ficcional. Para tanto serão utilizados dois grandes conhecedores da obra de Clarice Lispector: Benedito Nunes, em especial os livros O tempo na narrativa (em que aborda questões referentes ao fluxo de consciência e ao monólogo interior) e O drama da linguagem, sendo este último inteiramente dedicado à obra da autora; e Nádia Batella Gotlib, de quem se utilizará os livros Teoria do conto, por seu aprofundamento a respeito da forma do conto enquanto gênero literário (gênero do qual o texto analisado neste trabalho faz parte) e Clarice: uma vida que se conta, biografia sobre Clarice Lispector que também levanta questões relevantes a respeito do estilo e da obra da autora.