A partir da negação de identidades de gênero e sexuais que tomam o corpo em sua estrutura binária – masculino e feminino, homem e mulher, macho e fêmea e, posteriormente, heterossexual e homossexual – proponho uma revisão de abordagens e percepções sobre sujeitos contemporâneos que sustentam a ideia do corpo como o primado para o estabelecimento das construções de si. Parto do pensamento de Monique Wittig (2007), quando elabora a equação semântica de que “a lésbica não é mulher” (equação extensível a “o gay não é homem”), visto que as categorias homem e mulher só são possíveis de serem interpretadas em contextos políticos, ideológicos e econômicos das estruturas binárias, porque os alocam em lugares sociais diferenciados, tomando-se a marca biológica como argumento para a manutenção das desigualdades de gênero. Centro-me na ideia de “contra-sexual”, de Beatriz Preciado (2000), que situa o corpo fora das oposições já citadas para indagar em que consiste e se é possível manter a ideia de corpo em substituição aos conceitos de homem-mulher e respectivos derivados. Apesar de ter consciência das tecnologias de gênero já discutidas por Teresa de Lauretis (1987) e do manifesto ciborgue de Donna Haraway (1991), das mulheres testosteronadas e das multidões queers problematizadas por Beatriz Preciado (2003; 2002), além da Teoria King Kong proposta por Virginie Despentes (2007), sustento que a noção de corpo é bastante complexa, e até inutilizável em muitos momentos, porque confusa, para manter-se como uma postura dos estudos gays, lésbicos, queers e feministas frequentemente interpretando sujeitos culturais.