O romance Budapeste, de Chico Buarque, apresenta características que pedem uma melhor compreensão do leitor, tais como transições, linguagem fragmentada, repetições e uso do recurso semiótico das fronteiras. Nosso objetivo, neste trabalho, é analisar a relevância destes traços e entender as suas constituições. As características citadas ocorrem no espaço, no tempo e na linguagem. As fragmentações podem manifestar o perfil de determinado personagem, do lugar e do tempo em que ele se encontra, assim como, por meio de deslocamentos, revelar perturbações surgidas pelo choque linguístico e cultural. As repetições estão organizadas de modo a evidenciar propriedades particulares do enredo e da linguagem. Estas reiterações revelam uma duplicidade, na obra, que pode ser compreendida como um “entrelugar” vivido pelo protagonista chamado José Costa. Em outros momentos, há uma noção de infinidade, de circularidade e de velocidade. Já a fronteira, que será estudada segundo a Semiótica da Cultura, apoia-se no conceito de “moldura”, formulado por Uspênski (1979). No romance de Chico Buarque, a fronteira apresenta-se mediante o espaço (Brasil e Budapeste), o tempo e a narração (linguagem), indicando certa desordem entre presente, passado e futuro. O protagonista, que vive toda esta situação, sente-se em um “entrelugar” irregressível. Portanto, pretendemos investigar processos que exprimam relações entre as construções de uma obra ficcional, a constituição de sua linguagem e o limite entre a arte e sua representação.