Este trabalho objetiva refletir sobre a configuração do vestuário na obra Orlando: a biography (1928) de Virginia Woolf, por se tratar de um elemento importante para a problematização das identidades das personagens. Propomos, por um lado, um diálogo entre a malha narrativa do romance e alguns dos questionamentos suscitados por teóricos/as dos estudos de gênero, principalmente no que diz respeito às contribuições de Judith Butler (Gender trouble, 1990) sobre a desarticulação das categorias sexo/gênero/desejo. Por outro lado, consideramos também o extenso estudo de Roland Barthes (Sistema da moda, 1967), que reflete sobre as nuances do que ele conceituou como “vestuário escrito” nas descrições das revistas de moda, estendendo essa noção, porém, para o âmbito dos estudos literários. Para esta aproximação traremos à pauta a metáfora do texto indumento sugerida pela obra estudada, ao analisar os momentos em que Orlando surge guardando consigo, no vestido ou no bolso da jaqueta de couro, o poema que escreve por toda a vida, trazendo-o inscrito em seu corpo que é página. Analisamos o vestuário operando como um signo agente no romance que, por contribuir para a dissolução de identidades coerentes, torna as personagens mais complexas e dissonantes, além de promover uma desestabilização do campo de referência dos/as leitores/as e provocar, assim, as bases das ideologias dominantes.