Ao analisar textualmente a escrita de Morangos mofados, de Caio Fernando Abreu, procuramos verificar como se dá a construção de uma realidade que é inerente ao próprio texto, utilizando como tema central a doença que, neste caso, aparece como metáfora de autoconhecimento, do medo da morte e mesmo da esperança de vida. Essa análise é feita à luz de estudos que relacionam doença e literatura, como o de Susan Sontag, que discute a questão da doença como metáfora, e o de Marcelo Secron Bessa, que aborda o surgimento de um novo segmento literário, a literatura da Aids. Verificamos ainda na análise de Morangos mofados que não há na obra literária a fiel representação da realidade, mas uma tentativa de transcendê-la, como experiência de poder ser, de inacabamento, do devir, à luz do que postulam teóricos como Gilles Deleuze, Maurice Blanchot e Jacques Derrida. O conto em questão mostra exatamente essa construção transgressora, da doença como devir, como possibilidade de vida e de morte. Também procuramos entender o processo de criação do texto analisando uma carta do escritor a um amigo, falando sobre esse momento, sendo as características do processo criativo aí descritas como reações fisiológicas, sintomas de uma doença.