O espaço é um elemento central da estrutura narrativa da literatura do medo. Quando não é personificado e transformado na própria personagem monstruosa, o espaço narrativo é sempre responsável direto por conferir ao ser monstruoso grande parte de seu poder de provocar o medo e outras emoções correlatas. Mais do que um simples elemento constitutivo do texto narrativo, o espaço, na literatura do medo, pode se transformar em um topos literário, como ocorre nos inúmeros contos que tematizam locais mal-assombrados.O espaço narrativo exerce um papel fundamental para a produção dos efeitos de leitura inerentes à literatura do medo, o que pode ser confirmado pela vasta tradição crítica da literatura gótica, pródiga em descrições de como o sucesso do enredo e a capacidade de horrorizar das personagens monstruosas são dependentes da construção espacial – em sua dimensão geográfica, física, social e mesmo psicológica.Na comunicação proposta, pretendo demonstrar, a partir da leitura de obras literárias de autores como Gastão Cruls, Monteiro Lobato, João do Rio e Afonso Arinos, como traços góticos (nas narrativas ambientadas em localidades rurais) e decadentistas (nas narrativas ambientadas em localidades urbanas) são os elementos de composição das “paisagens do medo” da narrativa ficcional brasileira do início do século XX. O objetivo é apresentar os últimos resultados dos trabalhos do Grupo de Pesquisa “O medo como prazer estético”, atualmente concentrados na reflexão sobre manifestações do locus horribilis na literatura brasileira do período mencionado.