SANTOS, Kléber José Clemente Dos. O viajante naufragado. Anais ABRALIC Internacional... Campina Grande: Realize Editora, 2013. Disponível em: <https://editorarealize.com.br/artigo/visualizar/4392>. Acesso em: 07/11/2024 09:28
Moacyr Scliar, gaúcho de origem judaica, tornou-se um escritor brasileiro de renome internacional, produzindo uma obra que reúne mais de oitenta livros, entre romances, novelas, contos, crônicas e ensaios. Além da quantidade, destaca-se também a qualidade estética de suas histórias, ao representar conflitos relacionados ao ser humano em confronto com questões envolvendo a modernidade, o capitalismo, a violência, a luta pelo poder e sua manutenção, a busca por um lugar no mundo, principalmente no caso dos judeus, dentre outras. O estudo aprofundado de sua produção artística torna-se relevante, não só pela importância cultural para a literatura brasileira e judaica, como também pela riqueza de recursos e processos estéticos presentes em seus textos, e pelos olhares elaborados sobre o ser humano e suas relações consigo, com os outros e com o mundo, constituindo um campo fértil de pesquisa, tanto para crítica quanto para teoria literária. Nosso objetivo neste artigo é analisar o conto “A vaca”, de O carnaval dos animais (1968), observando a representação do espaço habitado - uma ilha deserta - e a condição de vida do protagonista - um marinheiro sobrevivente de um naufrágio. Investigamos o esvaziamento existencial desse sujeito, a elaboração estética da representação do espaço e o valor simbólico de determinados elementos, como a vaca e a ilha deserta. Além disso, demonstramos algumas relações (estéticas e temáticas) desse conto com outras narrativas do autor, presentes no livro em questão, como é o caso dos contos “Os Leões” e “Canibal”. Para tanto, ancoramos nossa leitura nas seguintes categorias analíticas: 1) o cronotopo literário, de Bakhtin (2010), a partir da qual desdobramos a subcategoria – o cronotopo da casa global; e 2) a intimidade protegida, de Bachelard (1978), na qual nos baseamos para formular outra subcategoria – a intimidade destruída. Com este artigo, não só contribuímos para ampliar a fortuna crítica de Scliar, analisando representações do ser humano e de suas relações com o espaço, como também potencializamos funcionalmente, para outras leituras, as categorias teóricas relacionadas.