A metrópole moderna se apresenta constantemente na obra do escritor gaúcho Caio Fernando Abreu como cenário para a construção de personagens marcados por uma perspectiva de trânsito e um profundo senso de solidão e deslocamento. No presente texto, buscamos analisar como se dá a representação das personagens gays na São Paulo do início dos anos 1980 no conto “Pela Noite”. Para fazê-lo, recorreremos à crítica social de Antonio Candido, bem como às noções de metrópole apresentadas por Walter Benjamim e Marshall Berman. Frequentemente, os personagens que vagueiam por esse espaço urbano podem ser identificados como sujeitos homossexuais, que encontram dentro do anonimato proporcionado pela metrópole um lugar de liberdade para suas experiências, mas também um lugar de continuidade para sua sensação de não pertencimento. Da análise do cruzamento entre signos genéricos ligados à metrópole moderna, como sua noite repleta de luzes e avenidas movimentadas, com signos específicos do universo gay, como saunas e boates voltadas para este público, podemos verificar como a narrativa do conto nos apresenta o cenário ideal para a sensação de incompletude que acompanha seus personagens.