Artigo Anais ABRALIC Internacional

ANAIS de Evento

ISSN: 2317-157X

TONI MORRISON E CAROLINA MARIA DE JESUS: DOIS TIMBRES MARCANTES DA VOZ AUTORAL FEMININA

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Publicado em 12 de julho de 2013

Resumo

Este trabalho é resultado de uma pesquisa de mestrado que buscou refletir sobre a formação de uma voz autoral, sua relação com a leitura e sobre como o contato com a literatura engajada (SARTRE, 1989) com as mais diversas realidades sociais teria o potencial de modificar identitariamente um indivíduo, dando a ele uma voz própria. Essa voz permitiria que ele pensasse e falasse por si, conferindo ao indivíduo autonomia enquanto sujeito. No entanto, a ênfase deste trabalho se limita à análise da voz autoral, a voz do escritor (ALVAREZ, 2006). Com esse intuito, foram escolhidas as vozes de duas grandes escritoras do século XX - a norte-americana Toni Morrison e a brasileira Carolina Maria de Jesus. Elas superam as adversidades dos seus respectivos contextos sociais, rompendo as barreiras do preconceito de classe, cor e gênero, e se destacam através da sua escrita. Toni Morrison, a primeira escritora negra a ganhar o Prêmio Nobel de Literatura, escreve com o compromisso de ressaltar as raízes e a cultura negra em seu país. Seu trabalho tem uma ênfase especial na representação da mulher negra. Carolina Maria de Jesus escreve uma autobiografia, na qual ela retrata seu cotidiano atribulado pela precária situação sócio-econômica em que vive. Personagem principal da sua escrita, Carolina mostra o que é ser pobre, mulher e negra em uma sociedade altamente preconceituosa e excludente. Percebe-se que como em um movimento tautológico, a escrita e a leitura estão intimamente ligadas, uma levando a outra (BARTHES, 1970). Ao analisar a relação das duas escritoras com a leitura, busca-se mostrar que elas desenvolveram suas vozes como escritoras, justamente por serem leitoras assíduas. Para analisar suas vozes autorais foram escolhidos seus primeiros trabalhos: o romance O Olho Mais Azul (2003) de Toni Morrison e o diário Quarto de Despejo (2007) de Carolina Maria de Jesus. Acredita-se que mesmo nas situações mais adversas e em grupos marginalizados socialmente, a literatura possa exercer um papel humanizador (CÂNDIDO, 2004; PETIT, 2009; TODOROV, 2010) e dar a essas pessoas uma consciência de si mesmas e do mundo ao seu redor, ajudando-as a viver melhor. A literatura teria feito isso pelas escritoras pesquisadas. Conclui-se que as vozes autorais de Toni Morrison e Carolina Maria de Jesus se destacam pela sua autenticidade e engajamento com as questões sociais. Mas também se destacam pelo seu trabalho de elaboração estética da palavra. Suas obras atuariam sobre o leitor da mesma forma que os trabalhos de outros escritores atuaram sobre elas, ajudando-as a enxergar realidades sociais por muito tempo ignoradas. Compreendendo que a literatura tem um papel importante na formação da identidade de um indivíduo, deve-se combater a segregação cultural que divide a arte erudita e popular de acordo com a classe social, pois a luta pelos direitos humanos abrange ter acesso aos diferentes níveis de cultura.

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