Analisa-se os contos Desirée's baby, da autora norte-americana Kate Chopin, e Pai contra Mãe, do autor brasileiro Machado de Assis, sob o âmbito sócio-cultural, mais especificamente analisando as questões conflituosas decorrentes de aspectos culturais e de aceitação na sociedade. Em Desirée's baby encontramos a situação da origem desconhecida da protagonista, Desirée: isto seria determinante para seu casamento com Armand, porém como homem apaixonado, ele decide ignorar a questão. Todas as convicções de Armand se transformam a partir do nascimento do bebê, que possui pele mais escura; daí surge a indignação e acusação de que Desirée é negra (no conceito americano ser negro está relacionado ao sangue e aos antepassados da pessoa) e que esta o enganou. Como solucionar o conflito? O tema da mãe e seu bebê é retomado no conto de mesma época no Brasil, Pai contra Mãe, de Machado de Assis, porém assumindo nuances mais dramáticas, típicas de nossa sociedade escravista: Candinho é caçador de escravos fugidos. Apaixona-se e casa-se com Clara, que logo engravida, apesar da situação financeira do casal ser miserável. A sugestão da tia de Clara é que ela entregue o filho para adoção (na verdade descartá-lo na famosa "roda dos enjeitados"), porém Candinho resiste à ideia até o último minuto, quando se depara pela rua com uma escrava fugida, cuja oferta de captura é alta. O conflito a ser solucionado aqui é que a escrava está grávida, mas Candinho precisa do dinheiro para sustentar o filho e não entregá-lo à adoção, daí o título, Pai contra Mãe. O que se pretende investigar, apontar e relacionar em ambos contos é como se configuram as aceitações e rejeições da mulher e seu filho, seja ela negra ou não, na sociedade patriarcal e escravista de fins do século XIX, tanto no sul do EUA quanto na capital do Império brasileiro. Sabe-se que, mesmo que a escravidão tenha sido abolida nos EUA em 1863, este fato não alterou o pensamento e comportamento social dos sulistas; e sabe-se também que, mesmo já não suportando mais as pressões internacionais para que a escravidão fosse abolida (e o foi tardiamente), o Brasil não pretendia trocar sua cômoda situação de escravista e latifundiário, em que o lucro era supostamente maior, para fazer a transição para uma economia de fato capitalista, com o trabalho livre remunerado.