A gênese da literatura brasileira surge sob a influência da literatura oral vinda com os colonizadores e difundida em terras brasileiras. As modificações foram inúmeras, já que este é um caráter imanente da literatura oral: as várias versões de uma mesma história que, recontadas são recriadas. Na década de 70, na capital de Pernambuco, artistas de diferentes manifestações (teatro, pintura, arquitetura, música, escultura e literatura) reuniram-se sob a coordenação do mestre Ariano Suassuna, a fim de pensar e difundir a identidade brasileira através de uma arte erudita fundamentada na cultura popular cujas raízes remontam as influências sofridas durante o processo de colonização. Raimundo Carrero, escritor e jornalista se junta a este grupo, denominado Movimento Armorial, estreando com sua primeira novela, A história de Bernarda Soledade – A tigre do sertão, em 1975. Nesta obra é possível identificar vários palimpsestos, como denominou o teórico Gerárd Gennette, da tradição ibérica e medieval. Apontamos a relação com o messianismo, o mito da donzela-guerreira, a peça A casa de Bernarda Alba, de Federico Garcia Lorca, e com as obras tanto do próprio autor quanto de outros escritores armorias ou populares. Propomos neste trabalho a identificação destes palimpsestos na obra carreriana a fim de analisar a influência ibérica que marca a arte armorial refletindo por conseguinte sobre a formação da literatura brasileira, como também sobre a proposta armorial para a valorização das nossas raízes, via valorização da cultura popular. Como fundamentação teórica Gennette (2006), Moraes (2000), Galvão (1997), Oliveira (2005).