Dentre os incontáveis testemunhos e narrativas engendradas pelo holocausto nazista o livro É isto um homem?, do escritor italiano Primo Levi, desponta como um dos mais contundentes relatos acerca dos horrores e das monstruosidades vividas nos campos de concentração nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Partindo do testemunho do autor sobre o doloroso processo de degradação da vida humana vivido no campo de concentração, o presente trabalho propõe uma discussão acerca das várias formas e expressões da violência e mortificação do homem ocorridas nestes centros de extermínio. Primeiramente, examinaremos como os relatos de Levi sobre o sistema de organização do trabalho no campo de concentração emula e potencializa uma lógica perversa de estruturação e lógica do trabalho já existente no mundo externo, ou da “vida em liberdade”. Em seguida, observaremos como a experiência do holocausto narrada no livro revela um imbricado e complexo processo de reificação da vida humana, cujas consequências mais diretas afetam a relação do indivíduo com o corpo, seja este do próprio indivíduo ou do outro. À guisa de conclusão, o trabalho valer-se-á das reflexões de Adorno e Horkheimer acerca da relação entre esclarecimento e barbárie a fim examinar mais detidamente a origem do impulso à mortificação do homem e da violência corpórea exposta nos relatos de Levi.