Hoje, o uso do termo “regional” para designar a produção literária de determinados espaços geográficos pode parecer, para uns, um contrassenso; para outros, um ato de afirmação política. O fato é que ao abordar esse tema, deparamo-nos, a todo o momento, com a ideia de fronteiras: literatura/não-literatura, literatura nacional/estrangeira, boa/má literatura; literatura canônica/não canônica; literaturas centrais/periféricas; literatura regional/universal, entre outras. Trata-se de binômios que causam desconfortos e polêmicas e que representam, simbolicamente, limites tênues, quase sempre erigidos sobre pontos de vista distintos, que partem de referenciais diferentes e dão voz a variados juízos de valor, mas que, se não o pretendem, com frequência acabam por definir categorias que “confinam” os textos literários. Propomo-nos aqui a levantar algumas questões relacionadas à noção de “literatura regional” e seu lugar num mundo globalizado em que os Estudos Literários apontam, cada vez mais, para a discussão de questões de cultura e identidade. Partimos, a priori, dos pontos de vista de Afrânio Coutinhos, Ligia Chiappini, Yi-Fu Tuan e Stuart Hall para problematizar o lugar de tais reflexões frente aos processos de globalização, considerando que a literatura convencionalmente chamada de “regional” precisa ser abordada a partir de novos olhares que observem as singularidades “locais” presentes no texto, sem, contudo, tomar o texto como uma singularidade “local” por si só. É nesse ponto que encontramos a noção de “topofilia”, de Tuan, que surge como um caminho alternativo de acesso às especificidades dos textos “locais” a partir de argumentos que, ao invés de distanciá-los de tudo o que não seja eles mesmos, possibilita seu diálogo com textos de qualquer tempo, de qualquer parte do mundo, pois a topofolia está relacionada à percepção do lugar pelo(s) sujeito(s). Assim, é possível aproximar textos clássicos e contemporâneos, canônicos ou não, redimensionando o impacto daqueles binômios iniciais no estudo de textos literários.