As pessoas bissexuais frequentemente são pouco aceitas nos movimentos LGBT, apesar de serem teoricamente incluídas pela letra “B” na sigla. A bissexualidade é tratada como “só uma fase” antes de se assumir heterossexual ou homossexual e as pessoas bissexuais devem lidar com preconceitos de supostamente serem promíscuas e desconfiáveis. A presente pesquisa, que imbrica Antropologia, Linguística Aplicada, Linguística Queer e Análise das Narrativas, analisa as construções identitárias performativas e discursos de resistência de ativistas LGBT que se identificam como mulheres bissexuais, focando em suas narrativas sobre o processo de sair do armário e sobre estereótipos, discriminações e preconceitos bifóbicos que experimentaram na sua militância no movimento LGBT. Os dados foram gerados em entrevistas individuais com três mulheres bissexuais que participam de um grupo de ativismo LGBT no Rio de Janeiro, no qual um campo etnográfico de 22 meses foi realizado entre 2010-2012. Na análise das narrativas das ativistas, veremos como, para serem aceitas, devem provar que suas performances identitárias bissexuais não são “só uma fase” (assim reforçando a ideia de identidades fixas/estáveis), e como devem construir performances de não-promiscuidade (assim reforçando a monogamia como norma). Identificamos a existência de um ciclo vicioso e paradoxal de apagamento e super-sexualização da bissexualidade: ao insistir que sempre sentiram desejo por homens e mulheres para combater o apagamento da bissexualidade, as ativistas são acusadas de serem promíscuas; para combater esse estereótipo super-sexualizante, insistem que são capazes de ser monogâmicas; ao insistir que são monogâmicas, são classificadas como lésbicas ou heterossexuais, apagando novamente a bissexualidade.