O presente artigo consiste numa pesquisa em andamento revelando o papel que a mulher e o feminino ocupam nos espaços de culto umbandista, atravessado pelo processo de incorporação da entidade Pombo Gira. Buscando na relação médium-entidade, objetiva-se compreender como a influência espiritual da referida entidade reconfigura a função da mulher no fazer religioso. Como parte desse trabalho, analisar-se-á a trajetória social de médiuns adeptas, seguidoras dessa divindade, que perfazem uma participação pioneira nos espaços sagrados umbandistas, por meio de um simbolismo característico das Pombo giras, acionados como um mecanismo de defesa e imposição frente à hegemonia masculina no meio social. Para isso, a pesquisa percorre as vivências de filhas de santo da comunidade do Terreiro Gongá Cantinho de Luz, zona rural do município de Altos, PI, apreendendo o fenômeno da incorporação da Pombo gira no corpo feminino e o que essa entidade espiritual modifica na forma como essas mulheres se reconhecem, trazendo com isso uma nova moldura, transfigurada pelo feminino empoderado. A mulher, guiada pela luz flamejante da guia espiritual Pombo gira, revela-se apta a exercer uma função autônoma e encorajadora que desmistifica o papel subalterno destinado à mulher no ambiente repressor da sociedade machista. Assim, por meio de uma investigação etnográfica, embasada em uma fundamentação teórica, procura-se perscrutar o contexto social em que essas mulheres se inserem na representatividade do terreiro. Adicionando a isso, a figura popular de Pombo gira responsável por deslocar o ser feminino sensual, de uma linguagem vulgar, para uma leitura que desafia padrões de comportamento.