Objetiva-se nesta comunicação analisar a violência na baixa prostituição feminina, sendo a interseccionalidade um recurso analítico-metodológico para pensar as condições de possibilidades que produzem tais violências e a negação de direitos dessas mulheres. Essas reflexões foram sistematizadas a partir de uma etnografia realizada entre 2012 e 2014 na Barra do Ceará/ Fortaleza. Ao compreender a prostituição enquanto um trabalho sexual historicamente estigmatizado, destaca-se na sua análise os efeitos das relações desiguais de gênero e da culpabilização da mulher pela vivência não normativa de sua sexualidade. A violência contra as prostitutas encontra-se velada no universo da violência contra mulher, não havendo números oficiais no país. As análises apontam que pensar a realidade das prostitutas pobres é reconhecer as diferentes facetas que as atravessam enquanto mulheres, pobres, putas. A dinâmica da baixa prostituição é atravessada pela territorial, estando códigos e regras da zona prostitucional em disputa/acordo com o território. Dentre as violências presentes na baixa prostituição, destacam-se as estruturais, resultantes do contexto de pobreza, as institucionais e as culturais, que se desdobram dos eixos de subordinação machistas e sexistas. A violência articula-se como uma teia relacional que acaba por impedir o reconhecimento do outro (classe, gênero ou raça/etnia) mediante o uso da força física e/ou simbólica. Assim, aponta-se como urgente reconhecer a prostituição como um trabalho, de modo que visibilizar e ampliar os diálogos sobre as vulnerabilidades e as naturalizações não neguem a autonomia e o direitos sobre seus corpos, desejos e discursos.